O genocídio é um dos mais terríveis crimes já experimentados pela humanidade. Diz respeito ao extermínio deliberado de um povo. Apesar de casos de crueldade similares serem conhecidos desde a era Antiga, foi o jurista polonês Raphael Lemkin que, antes mesmo do fim da segunda guerra mundial, utilizou o termo para descrever o nível de barbaridade a que judeus estavam sendo submetidos por nazistas.
A história da República brasileira, que em 2022 completou 133 anos, foi acidentada. Sua formação e seu percurso se deram com o protagonismo, por vezes violento e opressor, do Exército brasileiro: na República Velha, no fim da era Vargas, na Quarta República e, finalmente, com a Ditadura Militar de 1964 a 1985.
Em artigo recente, um colega professor desenvolveu enredo, na prática defendendo que os atos golpistas realizados em frente a quartéis do país, clamando por ação militar forçada para reverter politicamente aquilo que o voto não foi capaz de contemplar, são legítimos e constitucionais.
A primeira reação é de rir. Porque o absurdo, em regra, se apresenta como comédia. O que vemos nas ruas do Brasil pós 30 de outubro de 2022 poderia ser cenicamente enquadrado no gênero do Teatro do Absurdo: um enredo deslocado do senso de realidade, textos desconexos, personagens com comportamentos estranhos e bizarros.
Recentemente dois casos de crianças grávidas que tiveram obstáculos para exercer seu direito constitucional e humano ao aborto legal chamaram a atenção da opinião pública.
A poucas horas das eleições, do Ceará, estado em que, segundo pesquisas, cerca de minguados 20% do eleitorado aprovam o governo de Jair Bolsonaro (outros 20% consideram medíocre e 60% reprovam), a maioria absoluta da população se pergunta: como é que ainda há 7 estados do país em que uma pessoa tão repulsiva consegue estar na liderança das pesquisas de opinião?
A pandemia de desinformação que assola o mundo e o Brasil torna obrigatória a repetição do óbvio, muitas e muitas vezes. Estamos cansados, é verdade, mas não nos é permitido parar de repetir que a terra é redonda, que não há tratamento precoce para a Covid-19, que as vacinas para a Covid-19 não transmitem HIV e que tampouco são feitas de células de fetos abortados.
Para além das diferenças filosóficas a democracia é definida desde a Grécia Antiga como um modelo político que tem como pressuposto a coexistência de pensamentos divergentes dentro de um mesmo espaço público, que na modernidade é assegurada por ordenamentos jurídicos e instituições sólidas