Mara Carvalho é advogada, doutoranda, militante do MST e integrante da Coordenação da Executiva e da Secretaria de Relações Internacionais da ABJD.
Alexandre Guedes é advogado, Filósofo e Educador, militante dos direitos humanos e integrante da Coordenação Executiva e da Secretaria de Relações Internacionais da ABJD.
No dia 15.11.2024, durante a reunião do G20 social no Rio de Janeiro, realizou-se mais uma seção do Tribunal Permanente dos Povos - TPP na Fundição Progresso, tendo como réu o IMPERIALISMO, que foi JULGADO por crimes cometidos historicamente e sistematicamente contra os Povos e Territórios.
Estavam no Rio de Janeiro os principais senhores das guerras e as maiores forças do capital: considerando as realidades históricas e a situação atual; os povos do mundo representados no TPP decidiram julgar o imperialismo pelos crimes de:
*Genocídio dos povos: por executar, financiar, e apoiar diversos atos de genocídio contra os povos do mundo, desde o genocídio dos povos originários ao genocídio televisionado do povo palestino.
*Indução à pobreza, a partir da imposição de políticas de austeridade e tratados de livre comércio.
*Guerra econômica e violação da soberania e autodeterminação dos povos, simbolizada por bloqueios econômicos e sanções unilaterais, que tem como objetivo matar os povos de fome, utilizando a fome como arma de guerra, e pelas várias intervenções estrangeiras, sejam as militares abertas, ou as mascaradas, como é o caso do Haiti.
*Racismo estrutural e ambiental, que oprime, explora e assassina diariamente os povos pretos do mundo.
O TPP foi organizado por uma rede de entidades e Movimentos Sociais como: Alba Movimento/MST/Via Campesina/Marcha Mundial de Mulheres/MST/ ABJD/AJD/ MNU/UNEGRO/MAB/FEPAL/Centro Martin Luther King, entre outras.
O corpo de Jurados foi formado por representantes dos povos do mundo, afetados pelos crimes do imperialismo; como:
OS CRIMES E TESTEMUNHAS:
- Crime de genocídio dos povos, com o caso da Palestina. Testemunhado por Rula Shadeed da Palestina, diretora do Instituto Palestino pela Democracia Pública (Palestine Institute for Public Diplomacy – PIPD), uma organização não governamental independente que defende a libertação da Palestina de todas as formas de colonização.
- Crime de Indução à Pobreza, com o caso Tratado Mercosul - da União Europeia. Testemunhados por Morgan Ody , Camponesa francesa, membra da Confederação Paysanne e da Secretaria Internacional da Via Campesina; e Raiara Pires Brasileira, membra da direção nacional do Movimento por Soberania Popular na Mineração (MAM) e da Frente Brasileira contra o Acordo Mercosul-UE .
- Crime de guerra econômica, violação da soberania e da autodeterminação dos povos, com o caso Cuba. Testemunhado por Aleida Guevara Pediatra cubana, diretora do Centro de Estudos Che Guevara, em Havana, filha mais velha de Aleida March e Ernesto Guevara, o Che.
- Crime de guerra econômica e violação da soberania e da autodeterminação dos povos, com o caso Haiti. Testemunhado por Henry Boisrolin, Haitiano, coordenador do Comitê Democrático Haitiano e dirigente nacional da Plataforma Haitiana de Reivindicação de um Desenvolvimento Alternativo – PAPDA, uma articulação de movimentos populares haitianos que trabalham por alternativas econômicas populares para o Haiti.
- Crime de racismo estrutural, com o caso Genocídio da juventude preta do Rio de Janeiro. Testemunhado por Marcelo Dias, Advogado carioca, membro da Frente de Juristas Negras e Negros, do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e dirigente nacional do Movimento Negro Unificado (MNU).
- Crime de racismo ambiental, com os casos: (I) Mariana/MG. Testemunhado por Vanilda Aparecida de Castro Souza. (II) Os povos indígenas, quilombolas afetados de diversas formas pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, Minas Gerais, gerando o crime ambiental que matou o Rio Doce, e gerou danos à saúde, coletividade e espiritualidade desses povos.
OS ADVOGADOS:
Atuou como Defensor do Imperialismo Tom Kucharz, jornalista espanhol, com mais de 30 anos de experiência em análise e assessoria política.
Como advogado de acusação atuou o advogado Alexandre Guedes, representando a Associação Brasileira de Juristas pela democracia – ABJD, integrante da Coordenação Executiva e da coordenação da Secretaria de Relações Internacionais, sendo a acusação nos seguintes termos:
Inicialmente perguntou as testemunhas:
A juíza do Tribunal foi a Dra. Simone Dalila Nacif Lopes Juíza oficial da Vara Criminal de Nova Friburgo-RJ da Associação de Juízes pela Democracia - AJD.
Em suas alegações finais o advogado de Acusação Alexandre Guedes assim acusou o Imperialismo:
“MM JUIZA:
Sr e Sra integrantes do Ministério Público;
Sras e Srs jurados Integrantes do Conselho de Sentença;
Srs e Sras Testemunhas:
Apresento nossos parabéns ao colega advogado de defesa pela sua brilhante, difícil, corajosa, porém inverossímil peça de Defesa.
Nossos agradecimentos à equipe organizadora desse histórico Tribunal.
Companheiros e companheiras que assistem a esse Julgamento.
Nesta peça acusatória comprovamos que o réu, imperialismo, para assegurar seu domínio sobre o planeta, mantém, segundo o Pentágono, 865 bases militares, em cerca de 130 países – o que representa 95% de todas as bases militares no estrangeiro – onde estaciona 350 mil soldados, equipados com os mais sofisticados e mortais armamentos, aviões de guerra, mísseis e porta aviões.
Com esse nefasto aparato, apoia ditaduras, bloqueia, sabota e conspira contra a democracia e o desenvolvimento, e provoca guerras que são muito lucrativas para a indústria de armamentos e para as empresas, principalmente construtoras responsáveis pela reconstrução dos países destruídos.
O Réu - imperialismo com sua deletéria ação, garante bem estar e qualidade de vida para menos de 30% da população mundial apoiadores de suas ações, enquanto que para os outros 70%, planeja políticas econômicas excludentes, marginalizadoras e espoliadoras, resultando na miséria, pobreza e na desestruturação econômica e social das famílias e territórios atingidos.
O Réu - imperialismo dissemina golpes de estado e implanta regimes ditatoriais e governos títeres. Cria dívidas ilegítimas e odiosas, praticando a apropriação e expropriação neocolonial de bens e patrimônios naturais existentes nos territórios; se apropria dos corpos das pessoas e dos bens comuns da comunidade; estimula a promoção do uso de combustíveis fósseis convencionais e não convencionais, pratica o extrativismo ilimitado, distribui guerras, investe crescentemente na militarização, repressões e na eliminação física dos insurgentes; aumenta com sua ação, o exílio populacional e migrações forçadas.
O Réu - Imperialismo em sua ação testa e usa novíssimas tecnologias para causar mortes, destruição do tecido social dos territórios e do patrimônio material e imaterial dos povos atingidos, que estão na mira dos seus nefastos interesses geopolíticos e geoeconômicos.
O Réu - Imperialismo atua usando instrumentos financeiros, como o FMI e Banco Mundial, impondo dívidas aos povos e contratos com juros flutuantes que se multiplicam geometricamente de forma incomensurável com prática de anatocismo, que lhe garante lucros obscenos para suas corporações, inviabilizando o investimento em Políticas Públicas governamentais inclusivas, que visam garantir desenvolvimento humano e qualidade de vida para os povos em seus territórios.
O Réu - Imperialismo com sua prática de invasões, desestabilizações, sanções, embargos, bloqueios e boicotes, provocam perdas internacionais, com carências materiais, sacrifícios de vidas e alto custo social, com a diminuição e inviabilidade da conquista de qualidade de vida e desenvolvimento humano para os povos atingidos.
Diante disso há perguntas que não querem calar:
1 - Proibição de recorrer à ameaça ou uso da força;
2- Solução das controvérsias unicamente por meios pacíficos;
3 - Não intervenção nos assuntos internos dos outros Estados;
4 - Obrigação de todos os Estados cooperarem;
5 - Igualdade de direitos e autodeterminação entre si;
6 - Igualdade soberana dos Estados;
7 - Cumprimento de boa fé das obrigações assumidas.
1 - Soberania, integridade territorial e independência política dos Estados;
2 - Igualdade soberana de todos os Estados;
3 - Não agressão;
4 - Não Intervenção;
5 - Benefícios Mútuos e Equitativos
6 - Coexistência Pacífica;
7 - Igualdade de Direitos e autodeterminação dos Povos;
8 - Resolução pacífica dos conflitos;
9 - Reparação de injustiças resultantes do uso da força e que privem uma nação dos meios naturais necessários para o seu desenvolvimento normal;
10 - Cumprimento das obrigações internacionais;
11 - Respeito pelos Direitos Humanos e pelas liberdades fundamentais;
12 - Renúncia a procurar hegemonia ou esferas de influência;
13 - Promoção da Justiça social Internacional;
14 - Cooperação Internacional para o desenvolvimento;
15 - Livre acesso dos países interiores ao mar, dentro do quadro dos princípios acima apresentados.
Assim como tem o dever de respeitar e cumprir os demais princípios da ONU aprovados em 1975, como:
16 - igualdade soberana, e respeito dos direitos inerentes à soberania;
17 - Não-recurso à ameaça ou ao emprego da força;
18 - inviolabilidade das fronteiras;
19 - integridade territorial dos Estados;
20 - Solução pacífica dos litígios;
21 - Não-intervenção nos negócios Internos;
22 - Respeito aos Direitos da Pessoa Humana e às liberdades fundamentais, incluída a liberdade de pensamento, de consciência, de religião ou de convicção;
23 - Igualdade dos direitos dos povos e direitos dos povos em dispor de si mesmos - (autodeterminação);
24 - Cooperação entre Estados; e
25 - Execução de boa fé das obrigações assumidas em conformidade com o direito internacional.
E Excias, existe um agravante na prática de seus crimes, pois além da prática de “Guerra Hibrida” o Réu - Imperialismo agora usa uma nova arma: o Lawfare - que é a utilização da lei e dos procedimentos legais pelos agentes do sistema de justiça para perseguir quem seja contrário aos interesses do imperialismo.
O Réu - Imperialismo não cumpre nem respeita a legislação da ONU pela certeza da impunidade! Pois se prevalece da sua capacidade de uso da força econômica e bélica que possui na Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN, OMC e outros organismos multilaterais.
Porém lembremos que na luta dos povos por libertação, que o indômito e intrépido Rei David, com sua paciência, sabedoria, ousadia e destemor, derrubou o gigante e bem armado Golias, apenas com uma simples baladeira.
Lembremos também da fábula do Leão e o Mosquito de La Fontaine, onde o mosquito em sua luta por sobrevivência, derrotou o poderoso leão com suas próprias garras.
Neste sentido, os crimes aqui apresentados neste “Tribunal Popular onde o imperialismo está banco dos réus”, são:
1. Genocídio dos povos, sendo o mais recente a Palestina conforme ocorrências na Síria, Líbano, Iêmen e Sudão.
2. Indução à pobreza, com políticas compulsórias de austeridade, com o uso de Tratados de Livre Comércio, como são os Tratados do Mercosul e União Europeia, tendo como exemplos o Sri Lanka, Paquistão, Brasil e Argentina.
3. Guerra econômica: Violação da soberania e da autodeterminação dos povos, vitimando Cuba desde 1962 ; o Haiti e a Venezuela.
4. Racismo estrutural e ambiental, tendo como exemplo do extermínio da juventude negra do Rio de Janeiro; os crimes ambientais de Mariana/MG, Ayotzinapa (México), Haiti e Colômbia. Requerendo reparações coloniais aos Mapuches (Chile e Argentina), Povo Avá Guarani, Bhopal, Honduras, aos Incêndios no Brasil, ao caso Braskem, e ao caso Chevron no Equador, além de reparações ao sul global, e violações de direitos humanos durante a implantação da transição de matrizes energéticas.
Diante de todos os crimes contra a humanidade e a natureza, aqui denunciados, o réu - Imperialismo, deve ser punido exemplarmente, devendo suas múltiplas consequências serem devidamente reparadas!
Neste sentido, a Acusação requer a esse Tribunal a condenação do acusado a penalidade máxima, de arcar com as devidas responsabilidades legais e reparações indenizatórias aos povos e territórios vitimados.
Finalizo dizendo que, sem luta não há vitória, e que só a luta a vida muda, até que nossos sonhos sejam conquistados!
Sigamos em crescente levante, seguindo sempre em frente que atrás vem gente!
Até a vitória, sempre!”
Logo após a fala da acusação, a sentença de condenação foi prolatada nos seguintes termos - (resumo) :
“(…) Diante do exposto, considerada a soberana decisão dos Jurados, JULGO PROCEDENTE o pedido, DECLARO ILEGÍTIMAS as falsas soluções apresentadas pelo sistema capitalista e CONDENO O IMPERIALISMO pelos crimes de Genocídio dos do povo na Palestina, de indução à pobreza através de políticas de austeridade e Tratados de Livre Comércio, (Tratado de Livre Comércio Mercosul e União Europeia), de guerra econômica com violação da soberania e da autodeterminação dos povos, (Cuba e Haiti), e de racismo estrutural e ambiental (no Brasil contra a juventude negra do Rio de Janeiro e contra o meio-ambiente pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana/MG):
Intimados os presentes. Traduza-se, publique-se e divulgue-se.
CONVOCO todos os povos, a classe trabalhadora organizada, os Movimentos Sociais, as mulheres, os indígenas, os negros, a comunidade LGBTQIAPN+ , os habitantes do Sul Global, enfim, todos os povos subalternizados e oprimidos a se manterem permanentemente em LUTA contra o imperialismo e seus efeitos destrutivos sobre nossas vidas, exigindo reparações até que o sistema neoliberal seja extinto e construamos uma sociedade baseada na solidariedade, caminhando a passos firmes com os olhos fixos no horizonte socialista.
Declaro encerrada a Sessão deste Tribunal Popular: o imperialismo no banco dos réus.
Rio de Janeiro, G-20 Social, 15 de novembro de 2024.
Simone Dalila Nacif Lopes - Juíza do Tribunal Popular.
Crédito da foto: Ian Ribeiro