Forças Armadas e as eleições: quais os sinais e o que esperar?

30/06/2022

Forças Armadas e as eleições: quais os sinais e o que esperar?


Enquanto pesquisas divulgam a liderança consolidada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida à presidência da República, Jair Bolsonaro segue alimentando as especulações, em falas públicas e atos, sobre possibilidades de tentativas de golpe, com o não reconhecimento do resultado das eleições caso saia derrotado.

Em termos da disputa pela reeleição, os números mostram que o maior gargalo de Bolsonaro são as mulheres, que representam quase 53% do eleitorado apto a votar, contra 47% dos homens, segundo a estatística do eleitorado divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com dados de maio de 2022. Com uma rejeição acentuada no público feminino, para tratar do recorte mais absoluto, o razoável para o presidente, imagina-se, seria um investimento para melhorar o desempenho, com a escolha, por exemplo, de uma vice mulher.

Nesse sentido, as especulações em torno do nome da deputada federal pelo Mato Grosso do Sul e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que possui o apoio do agronegócio, apontavam para uma escolha política sensata no campo de sustentação ao governo. Isso se sensatez fosse algo a esperar de Bolsonaro que confirmou, na última semana, no entanto, o nome do general da reserva Braga Netto.

Ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, sem base eleitoral, o general certamente não agrega e não contribui para qualquer problema que possui Bolsonaro para sair do número estagnado de adesão eleitoral. Indica, portanto, que sua preocupação maior não é com ampliação das intenções de votos, mas com garantia de apoio à sua aventura golpista de não entregar o mandato em caso de derrota.

Nesse ponto, é importante que se afirme que a estratégia assentada em questionar a lisura do processo eleitoral pelos setores militares do governo já está em franco movimento e tem ganhado espaço, em uma pressão cotidiana e inflexível contra o Poder Judiciário eleitoral.

Na tarde do dia 20 de junho, por meio virtual, foi realizada a reunião entre o Observatório de Transparência das Eleições (OTE) e a Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), ambos colegiados instituídos pela Portaria TSE nº 578/2021, com a presença de inúmeras entidades da sociedade civil, participantes do OTE, que compõem a Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral. Na oportunidade, o general Heber Garcia Portella, indicado pelo ministério da Defesa para acompanhar a CTE, ficou em silêncio e com a câmera desligada durante toda a reunião.

Tendo enviado um ofício no dia 10 de junho ao ministro Edson Fachin, presidente do TSE, em que disse que os militares não se sentem prestigiados pelo Tribunal, o ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira encaminhou novo comunicado na mesma noite, após a reunião do dia 20 de junho, asseverando que as Forças Armadas atuarão como "entidades fiscalizadoras do sistema eletrônico de votação".

O tensionamento sobre qual o papel a ser desempenhado pelas Forças Armadas nas eleições e a intensificação das críticas ao sistema eleitoral, retomando as dúvidas sem quaisquer provas sobre a integridade das urnas eletrônicas, já passou pela tentativa de implantação de um sistema de contabilização de votos impresso. Hoje as Forças Armadas se fincam em defender apuração paralela.

Desde a redemocratização do Brasil na década de 80, o papel exercido pelas Forças Armadas nas eleições tem se resumido a transportar urnas para regiões de difícil acesso e garantir a segurança da votação em municípios ou localidades onde haja possibilidade de conflito. Isso por solicitação da Justiça eleitoral, caso haja.

Ocorre que o excessivo número de militares no atual governo federal, do piso aos postos de alto comando, torna muito difícil indicar onde termina o governo e onde começam as Forças Armadas, comprometendo sua imparcialidade na participação do processo. As manifestações dos militares, até o momento, configuram tentativas óbvias de intervenção no processo eleitoral, tomando para si a tarefa de revisores das eleições.

Todo esse quadro indica que o questionamento ao resultado eleitoral será feito por Jair Bolsonaro caso seja derrotado.

O que não se sabe, embora muitos façam apostas, é qual o tamanho da adesão de militares da ativa, que comandam as tropas, nessa aventura. Assim como que papel exercerão as polícias. O que é fato é que a sabedoria nos orienta a não pagar pra ver. Se é improvável que conclua seu tão sonhado golpe na democracia, o certo é que Bolsonaro não pretende sair sem causar estragos.

Daí porque a mobilização da sociedade civil organizada e a observação internacional é tão significativa.


*Tânia Maria de Oliveira é advogada, historiadora e pesquisadora. É integrante do Grupo Candango de Criminologia da UNB (GCcrim/UNB) e integrante da Coordenação Executiva da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD). Escreve sempre às quartas-feiras no Brasil de Fato. Confira outros artigos aqui.











Escolha a ABJD mais próxima de você

TO BA SE PE AL RN CE PI MA AP PA RR AM AC RO MT MS GO PR SC RS SP MG RJ ES DF PB