A notícia, no meio da reunião, de que a Policia Federal está investigando o jornalista Glenn Greenwald, deveria merecer o espanto e o repúdio de todas e todos, por ser um dos sinais que apontam para uma ruptura em favor de uma ofensiva geral de natureza repressiva e violadora de direitos.
Mas, ao oposto, a hipótese tem torcida e aplausos de membros eleitos do parlamento brasileiro, sobre quem a ameaça também paira. Algo como uma ditadura que pode se instalar “a frio”, com amplo apoio popular e apresentada como necessidade premente para o combate à corrupção e a salvaguarda da “ordem”.
Ao longo de quase 8 horas de reunião, Moro mostrou-se irônico e repetiu à exaustão seu jargão: “não reconheço, posso ter dito, mas não lembro, mas se disse não tem a menor relevância”. Tentou se apoiar na tese de que juristas concordam com ele sobre a ausência de gravidade dos conteúdos, embora tenha citado apenas um texto no Brasil, de autoria do ex-ministro do STF Carlos Velloso, cujo filho, não por coincidência, concorre à vaga no TSE na lista tríplice, a ser decidida pelo presidente Jair Bolsonaro, com parecer do Ministério da Justiça. O tema foi levantado pelo deputado Carlos Zarattini e deixou o ex-juiz aborrecido.
Ignorou as centenas de vozes do meio jurídico que criticam e condenam sua parcial atuação, o que inclui diversas entidades como a OAB, a AJD, a ABJD, IBCCRIM, ABRACrim, além de inúmeros artigos de professores de Direito das mais diversas universidades do país, advogados e juristas de diversas categorias. Sustentou, apesar de todas as evidências em contrário, a licitude de diálogos tidos e publicizados, utilizando os dados financeiros e de presos da operação Lava Jato para valorar a atuação do conjunto de seus membros.
Ao final, irritado com a fala dura do deputado Glauber Braga (PSOL/RJ) que o chamou de juiz ladrão, foi embora por uma porta secreta da CCJ.
Definir em uma frase a ida de Sérgio Moro, o ex-juiz, à Câmara dos Deputados, a partir de suas explicações à sociedade exigira roubar dele mesmo: “um balão vazio cheio de nada”.
Tania Maria de Oliveira
Coordenação Executiva da ABJD