*Por Ecila Moreira de Meneses
A tentativa do Senador Girão de entregar réplica de "criança" de onze semanas de gestação ao ministro dos Direitos Humanos, Sílvio de Almeida, causou espanto e revolta. Em repúdio a essa pantomima grotesca, que desrespeita a tragédia de desassistência às mulheres, por conta de gravidezes indesejadas ou perigosas, a Coalizão Cearense em Defesa da Democracia, juntamente com entidades e militantes dos Direitos Humanos no Ceará, organizaram nota de repúdio.
Em tempos de chacinas em escolas e de depredações do patrimônio público, protagonizadas por defensores de ditaduras e de torturadores, assistir a mais uma encenação de mau gosto desse tipo não é fácil. Existe, infelizmente, audiência para a estética de horrores; mesmo que estejamos cansados de perversões narcísicas e de certezas fundamentalistas, elas reaparecem em novas acrobacias e girândolas de exibicionismo
sem vergonha.
A atitude demagógica do Senador é coerente com seu histórico de negacionismo, ao difundir tratamentos desaconselhados pela ciência e defender a má gestão do governo Bolsonaro no enfrentamento à Covid-19, que levou à maior tragédia sanitária do Brasil. Esse senhor quer aparecer como defensor da vida, mas manipula imagem de um "cadáver" (sic), e usa a estética delirante do fascismo, inimiga do diálogo e do Parlamento, que procura "forjar um clima de terror, constrangimento e culpa no público para impedir o debate e a argumentação", como diz a nota coletiva.
Com frieza travestida de calma, o senhor Girão é incapaz de qualquer sensibilidade diante da trágica estatística de mortes de mulheres e da dor das famílias. Por isso nossa nota de repúdio manifesta apoio "à atitude expressa na resposta do senhor Ministro Sílvio de Almeida, que demonstrou firmeza em defender a vida, o diálogo, a ciência, as crianças, as mulheres, como fiel lutador e defensor dos Direitos Humanos."
*Por Ecila Moreira de Meneses, advogada, mestre em Filosofia (UFC), membro da Executiva Nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
Publicado originalmente no jornal O POVO em 17/05/2023